Na semana passada, falámos sobre opiniões e conselhos que nos deixam a pensar que tipo de ajuda se pretende dar aos Noivos. Pode ler ou rever aqui.
Hoje, falando ainda mais seriamente sobre o assunto, estou certa de que a confusão que os mídia projectam se reflecte, obrigatoriamente, no lado de quem consome. Porquê ? Porque, para os Noivos, o casamento obriga-os a pensar em situações que desconhecem por completo e a percepção de que casar é caro, leva-os a acreditar facilmente em falsas soluções de poupança.
Mas vamos a factos: todos fazemos parte do cenário/mercado: fornecedores, cliente e os mídia. Todos temos interesses diferentes e o cliente final também tem o seu. O cliente será tão melhor, quanto mais dominar a informação, mas para isso tem que ser selectivo, digerir e não engolir, não querer trilhar o caminho mais fácil e, por último, não querer surfar, a todo o custo, a onda do barato.
Casar é um acto legal que une em coração e face à lei, duas pessoas. Fazer uma festa para celebrar o casamento é um evento, e um evento é um projecto, envolve equipas alargadas, necessita de expertise e liderança. No seu todo, entenda-se todos os fornecedores envolvidos nas várias actividades, não é um grupo de pessoas que trabalha por divertimento, é uma profissão única para a maioria. Como podemos ter uma visão tão frívola do assunto ? Talvez as mensagens incorrectas nos tenham trazido até aqui, mas duma vez por todas, tratemos do assunto com a importância que tem.
Ora vejamos:
- sabemos que casar custa dinheiro, muito ou pouco, dependerá dos Noivos, o catering, a animação, o fotógrafo, a organização, etc. - tudo custa dinheiro! Mas estão à espera de quê ? Qualquer evento custa dinheiro! E custa porque tem matéria-prima e serviços, tem pessoal, tem logística, tem espaço e implica pagamento de impostos;
- sabemos que os Noivos querem uma festa após a cerimónia, e para isso, há que organizar, contratar, negociar e fechar contratos. Mas até chegarmos a esse momento, muito caminho tem que ser feito, desde a procura do espaço à ementa fantástica, passando por uma variedade imensa de outras tarefas. Encontrar a melhor relação preço/qualidade para todos os items, é onde reside o segredo. E o segredo é encontrar o melhor serviço que se adeque ao que cada um pode pagar. Para o total descanso dos Noivos, estes podem contratar um organizador ou... deitar mãos à obra e tomar conta do assunto.
- imaginando que não se sentem capazes de gerir este tipo de evento, decidem contratar quem o faça. Farão ideia das horas gastas só para a procura, contratação e organização? Pois sim, sei que não fazem. Entre 200-400 horas, tempo médio. Agora pensem nos custos associados a este tipo de função: deslocações (combustível, portagens, desgaste da viatura), custos de comunicação (telefone, internet), custos da estrutura (espaço de trabalho, assistente). Por último, o custo horário do profissional. Estamos a falar de trabalho de assessoria que implica horas de investigação, negociação e de tomada de decisões. A natureza deste ou outro evento implica uma enorme responsabilidade. Desvalorizar este tipo de trabalho é desvalorizar o evento em si mesmo. Só para terem uma ideia, um evento desta natureza, gasta em média entre 200-400 horas. Na semana antes do grande dia, as horas deixam de ser contabilizadas e no dia D, qualquer um dos fornecedores trabalha entre 10-12 horas seguidas.
- podem continuar a pensar que os custos são altos, mas a verdade é que o mercado tem hoje uma larga oferta. Têm a possibilidade de contratar de acordo com o que têm para gastar, nada nem ninguém obriga a gastar fortunas - o que não é possível, é querer tudo a custo zero ou quase. A diversidade de preços, oferta de serviços e produtos nunca foi tão grande, do preço mais económico ao mais alto, há todo o tipo de opções. A escolha é uma questão económica e de bom senso. Ou se tem dinheiro para o plano A ou só se tem para o plano B. A palavra "caro" não entra na equação.
- estarão a pensar que podem sempre poupar? Pois podem, mas entre poupar e não gastar é que reside a questão.
Vamos ao que podem deixar de gastar? Na roupa bonitinha, no fotógrafo, na animação, na organização e por aí fora. Só nestes exemplos, já terão deixado de gastar (não poupado) entre 4.500 - 6.000€. Mas isto não é poupar, é simplesmente decidir não ter uma festa para celebrar o casamento. Poupar é decidir se queremos tudo ou só algumas coisas. Se a decisão se inclina para um preço ou para outro. Mas quanto a isso, a decisão é vossa!
- querem organizar a vossa cerimónia sem festa, é possível e quase sem custos ? Sim, claro que sim ! Marcam a conservatória ou a Igreja, vão lá no dia, despacham o assunto e voltam para casa, casados. Quanto poderão gastar? Atrevo-me a dizer que ficará em qualquer coisa como 200-300€. Onde pouparam? Em lado nenhum! O estado cobrou a taxa de serviço, e a igreja, o valor da ocupação do espaço e o tempo do sacerdote. Tabelado e sem negociação, descontos ou uma atençãozinha.
- como cidadã e consumidora, também reconheço o direito a exigir preços correctos. Reconheço que existem alguns serviços que se "tabelaram" de comum acordo (a palavra certa seria cartel!), o que não ajuda a uma boa imagem dos profissionais em geral, mas volto a relembrar que a oferta é grande e de qualidade, e o poder de decisão está nas mãos de cada um.
- a exigência de preços baixos ou prestação de serviços quase a custo zero, não é o melhor caminho, tanto para clientes como para profissionais. Competirá a cada um zelar pelos seus interesses é certo, mas a actividade de fornecedores de serviços de casamentos não pode ficar no cenário extremista - inacessível ou baratinho. Os negócios só são consistentes e equilibrados quando são bons para ambas as partes. Só assim teremos bons profissionais, negócios sustentáveis e mercado interessante. Pode não querer exigir um contrato ou uma factura, a decisão é sua, mas quando não o faz, esta a contribuir para um mercado menos transparente e eficaz, mais dúbio, menos sério (e, se alguma coisa correr mal, menos seguro e sem garantias. Já pensou no investimento financeiro que está a fazer?). Mas em caso algum, devem ser os profissionais a pagar do seu bolso, as facturas da vossa festa.
Nota final - todos os preços indicados, são valores considerados médios.